GORDURA LOCALIZADA E A INTERFERÊNCIA DELA NOS PADRÕES DE BELEZA    

           A busca pela beleza tem se tornado um fato extremamente importante na atualidade, principalmente porque as pessoas, cada vez mais, querem exibir rostos e corpos que julgam ser perfeitos. Muitas vezes o padrão estético imposto pela sociedade e pela mídia pode não ser ideal para o biótipo em questão e, neste caso, as pessoas buscam dietas, exercícios, tratamentos e procedimentos estéticos invasivos ou não para alcançar a qualquer custo o corpo e rosto perfeito. Essa busca incansável pela beleza pode colocar em risco a saúde do indivíduo.

            O peso e a forma corporal muitas vezes tornam-se os maiores inimigos das pessoas. Nossa pele é composta por duas camadas, a epiderme: camada mais superficial que se renova constantemente; e a derme: camada abaixo da epiderme que contem tecidos de sustentação e elasticidade da pele. Abaixo delas, encontra-se o tecido subcutâneo cuja principal função é ligar a pele aos demais órgãos, além de isolamento térmico, barreira física ao trauma, secreção de proteínas e peptídeos bioativos com ação local e a distância. .

            O tecido subcutâneo é composto por um tecido conjuntivo frouxo e células que armazenam gordura entrelaçadas a vasos sanguíneos não sendo a distribuição deste tecido uniforme em todos os indivíduos.

            De maneira simplificada, podemos dizer que o tecido adiposo atua como um reservatório de gordura que será utilizada no momento em que o organismo precisar de energia. Mas esse mecanismo não é tão simples como parece, se a necessidade do corpo por energia ocorresse na mesma velocidade de armazenamento de gordura, não haveria acúmulo e ninguém estaria acima do peso. O que ocorre é que a velocidade em que a gordura é armazenada não é a mesma velocidade com que ela é consumida para gerar energia e o excesso se acumula no tecido subcutâneo ocasionando o aumento deste tecido.

            A gordura localizada é o acúmulo do tecido adiposo em determinadas regiões do corpo, sendo mais comuns nas coxas, abdômen, quadril, subescapular e pré-axilar. Este tipo de gordura pode ser encontrada mesmo em indivíduos com dieta balanceada e que praticam exercícios físicos, não sendo exclusiva de indivíduos sedentários e que se alimentam de maneira inadequada.

            Há algumas formas de remoção desta gordura localizada, dentre elas podemos citar a lipoaspiração que é uma técnica cirúrgica, invasiva que exige internação hospitalar, anestesia geral e demanda de tempo de recuperação. Este tipo de cirurgia foi muito utilizada tanto no Brasil quanto no exterior e, atualmente, devido as possibilidades de complicações cirúrgicas e tempo de recuperação os indivíduos tem buscado por outras opções não invasivas.

Uma das técnicas não invasivas utilizadas para a redução de gordura localizada é a criolipólise. Neste procedimento as células dos adipócitos humanos são submetidas ao resfriamento em temperaturas bastante frias, ao ponto de serem congeladas. Esse congelamento provoca uma inflamação no tecido e induz a morte dos adipócitos, sem prejuízo aos tecidos adjacentes.

            Os primeiros estudos relativos a esta técnica foram realizados por dermatologistas em 2008 utilizando porcos Yucatán, por apresentarem a pele com estrutura semelhante à pele humana. O estudo foi realizado e os resultados apontaram uma redução de aproximadamente 80% da espessura da camada de gordura 4 meses após o tratamento, sem prejuízos à pele e sem alteração do nível de lipídios sanguíneos.

            Já o primeiro estudo em humanos, foi realizado em 2009. A avaliação da espessura do tecido adiposo foi realizada através da ultrassonografia, apontando que todos os casos tiveram uma redução média de 22% da gordura local e, depois de 4 meses, 80% dos casos apresentaram redução visual de medidas na área tratada.

            Com estes primeiros estudos utilizando esta técnica foi possível compreender melhor o que acontece com o organismo durante o procedimento:

1- ocorre o resfriamento controlado do local desejado;

2- esse resfriamento provoca a apoptose dos adipócitos no local;

3- de 2 a 3 dias após o congelamento, inicia-se um processo inflamatório e os leucócitos serão ativados ao redor do local da inflamação;

4- Após 14 dias, os macrófagos são mobilizados ao local e, pela fagocitose, digerem as células de gorduras que morreram com o congelamento, sendo observada a diminuição do local que é melhor verificada após 28 dias; 5- passados 60 dias do procedimento, inicia-se a redução da inflamação e após 120 dias, observa-se os resultados reais obtidos com o procedimento, pois é o tempo necessário para atingir o pico de redução de gordura.

A criolipólise é um procedimento estético relativamente novo e, por isso, os resultados de pesquisas científicas que comprovam sua eficácia ainda são limitados, principalmente a nível nacional.

Referências

Silva, C.M.; Carvalho, D.K.; Percepção de clientes submetidas à técnica de criolipólise no tratamento da adiposidade localizada na região abdominal. Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação em Estética e Bem estar. Universidade do Sul de Santa Catarina, 2018.

Almeida,G.O.O.; Antonio, C.R.; Oliveira, G.B.; Rollemberg, I.; Vasconcellos, R.C.; Estudo epidemiológico de 740 áreas tratadas com criolipólise para gordura localizada.  Surgical & Cosmetic Dermatology, vol.7, num. 4, p. 316-319, 2015.